Absinthia – Another Knight Bewitched: A bela arte do RPGMaker
Desde os anos 2000 existe o RPGMaker, um programa que possibilita a criação de RPGs através de uma Game Engine que traz fácil acesso as ferramentas necessárias para esse processo. Dito isso aqui temos Absinthia, um J-RPG de turno criado com uso de tal ferramenta pela desenvolvedora Indie Team Bewitched.
“Absinthia” é um J-RPG com ambientação inspiradas em games dos anos 90/2000; uma história com contextos muitos atuais; gameplay focado em exploração de dungeons e combate baseado em turno; e visuais pixel art.
Protagonizado por Sera, uma guerreira que treina para proteger sua cidade, Katti Town. Acompanhada por seus amigos Thomas e Jake, são treinados sobre a tutela de Freya, uma experiente Cavaleira que uma vez salvou sua cidade. Juntos eles protegem sua terra de Lilith, que por razões desconhecidas, frequentemente fica realizando ataques, acompanhada de seu exército de monstros.
Personagens muito carismáticos e bem escritos
“Absinthia” conta com um cast de personagens muito bem criados, uma característica essencial para um J-RPG cativante.
No game você presenciará a história de quatro personagens:
Sera, uma guerreira em treinamento que desenvolveu uma forma de proteger seus aliados focando em contra-atacar ataques de seus oponentes. Ela tem muito carinho pela sua família, sua pequena cidade e seus amigos.
Thomas, um Mago muito inteligente, que está sempre em busca de saber mais sobre o passado de seu bisavô, que foi um poderoso mago, mas que aparentemente morreu após perder a sanidade. Em batalha Thomas usa de suas magias para atacar os pontos fracos dos inimigos e proteger seus aliados.
Jake, um ladino, que após deixar sua família para desbravar o mundo, chegou até as Ilhas Ambrose e conheceu Katti Town. Foi aqui que, apesar de não costumar ligar para as pessoas, ele conheceu Thomas, seu par romântico, e sua nova amiga Sera. Em batalha Jake foca em causar status negativos em seus oponentes, assim como alguns ataques mágicos que ele aprendeu com Thomas.
Freya, uma Cavaleira Errante, que uma vez protegeu Katti Town do ataque de Lilith e após isso começou a treinar Sera e passar sua experiência para Thomas e Jake. Em batalha Freya é como uma paladina, ela chama a atenção dos ataques inimigos, assim como tem muitas habilidades mágicas que auxiliam seus aliados.
A química de interação entre os quatro protagonistas é de se admirar, eles têm uma relação de amizade muito bem feita, com diálogos o tempo todo bem interessantes e diversas vezes bem engraçados, na dose certa. Assim como momentos pesados, em que cada um ajuda o outro com suas dificuldades emocionais. Sera vê a Freya não só como mestra, mas como uma irmã mais velha. Jake é um rapaz que leva a vida sempre ao máximo, muitas vezes não parecendo levar as coisas a sério, mas é apenas ele sendo sincero com suas emoções, mas Thomas o ama e coloca o Jake na linha quando precisa.
Forte Representatividade LGBTQIA+
Um ponto fortíssimo de “Absinthia“ é sua representatividade LGBTQIA+.
A relação de Thomas e Jake na narrativa é linda, sempre mostrando o relacionamento deles de uma forma natural. Mas não só eles representam isso: Sera e Freya também.
Sera é uma assexual/arromântica. Ela não tem desejos por ninguém, e a forma como o game toca nesse detalhe é emocionante, pois presenciamos cenas onde ela admira o amor entre Thomas e Jake, desejando as vezes sentir algo equivalente, e se perguntando se sentirá isso algum dia na vida.
Freya é uma mulher Trans, que aparentemente tem um par romântico na história, pois ela recebe cartas que parecem de amor, o tempo todo, mas por algumas razões desconhecidas ela ainda não pode “encarar” essa pessoa no momento.
A melhor parte da exploração e combate dos anos 90/2000
“Absinthia” tem forte inspiração nos J-RPG’S dos anos 90/2000. Tanto visualmente quanto em gameplay.
Na parte visual, os cenários e ambientação são bem ricos, com bastante variedades de cores, encontramos diversas cidades e dungeons com características próprias. O Mapa Múndi onde andamos entre estas localidades também combina com a estética do game.
Os modelos dos personagens, NPCs e inimigos é muito variada, os protagonistas e outros personagens mais importantes tem até uma arte própria mais detalhada, similar à Visual Novels de hoje em dia, porém toda feita em Pixel art. O jogo conta com bestiário, onde você pode sempre ver estes modelos e informações dos inimigos também.
As dungeons variam bastante, com puzzles simples, bem elaborados e característicos de suas temáticas, como por exemplo, um esgoto onde você precisa acionar alavancas para poder passar pelos dutos, mas se fizer na ordem certa, consegue acesso a alguns itens que ti ajudam, podendo ser equipamentos ou consumíveis.
Em relação ao combate, “Absinthia” tem combates em turno, no qual você escolhe todas as ações antes do turno de batalha, e cada um realiza numa ordem que vai de acordo com a velocidade de cada um.
Todos os personagens tem um valor fixo de Mana, que recupera um pouco a cada turno ou utilizando uma skill própria pra isso. Skill essa que além de recuperar mana, cada personagem realiza algo a ver com suas características, como por exemplo, Sera ao usar a skill “Riposte” irá recuperar 40 de mana, aumentará sua força e terá chances aumentadas de contra-atacar ataques inimigos pelos próximos 3 turnos.
Cada um dos quatro membros do time tem suas funções bem distintas, com Sera você poderá focar em usar skills que geram proteção ao seus aliados e contra-atacar os inimigos, Thomas é o Mago que dá muito dano elemental pesado e com algumas skills de ajudar aliados, Jake enfraquece os oponentes com status negativos e aproveita de sua velocidade para realizar ações rápidas e Freya pode atrair atenção dos inimigos enquanto aumenta sua defesa, assim como tem alguns ataques elementais e cura de aliados.
Conforme progride na história você terá acesso as skills combinadas entre os personagens, muito similar ao clássico “Chrono Trigger”. Os personagens podem aprender estas habilidades através da história principal e ao presenciar algumas cenas opcionais, como dormir em algum “Inn” em certo momento, fazendo com que os personagens conversem sobre suas habilidades e decidam experimentar uma nova combinação por exemplo. São diversas as skills. E elas são como uma versão “nova” de skills já existentes, ou seja, só de ter os dois membros necessários no time pra elas, elas já se tornarão a nova skill. Caso um membro do time não esteja presente, ou morto, ela volta a versão anterior.
Sendo um J-RPG, “Absinthia” felizmente não se prende a alguns aspectos que envelheceram mal no gênero, por exemplo, não existem lutas aleatórias, o game tem algumas lutas obrigatórias, mas nada exagerado, em sua maioria você lutará se quiser. Você também pode deixar a velocidade das lutas bem acelerado, desligar as animações das habilidades e pode desligar o som que faz quando personagens conversam (aquele som de “bipe” durante as falas, característico da época).
Sempre é bem claro qual é o nosso próximo destino. É só acessarmos o menu que um dos membros do time nos informa qual é o próximo local que precisamos ir. E ainda cabe a nós acharmos tal local.
E o game contém bastante segredos que cabem ao jogador descobrir, como eu por exemplo, que encontrei no início do jogo a Ibuki, uma Oni (demônio do folclore japonês), um inimigo opcional super poderoso, que ao tentar enfrentar tomei uma surra, pois eu estava level 3. Pude voltar posteriormente, com level 8 e encarar ela. Mesmo apanhando muito, utilizei de itens e consegui vencer ela, minha recompensa foi um item muito bom que me ajudou bastante depois… Qual o item? Cabe a você achar ela primeiro… hehe.
Mais um ótimo J-RPG para Live Streams
Para esta review, foi analisada a versão de PC, pela Steam.
“Absinthia” é um jogo bem leve. É possível jogá-lo em quase qualquer Setup e fazer uma live stream dele com facilidade.
Ele tem uma característica muito útil para quem faz live stream, o jogo não é muito grande. Sua duração pode variar bastante entre 10 e 20h, vai depender muito se explorar todo o conteúdo adicional e se usará ou não das ferramentas que aceleram as batalhas.
A história e personagens são muito cativantes, some isso a toda a ótima representatividade que ele tem, com toda certeza isso agregará para o seu público, além de poder mostrar mais jogos que abraçam a comunidade LGBTQIA+.
Como um jogo Indie de orçamento bem limitado, infelizmente “Absinthia” não tem legendas em Português brasileiro, o que pode ser um desafio dependendo da situação.
Absinthia
Conclusão
Absinthia é um J-RPG fenomenal, mais um belíssimo Indie criado pela Team Bewitched. Com personagens excepcionais, uma ótima representatividade LGBTQIA+, combate satisfatório, boa exploração de dungeons e durabilidade perfeita para live streams. Faltando apenas uma localização para Português Brasileiro.
Curtidor de animes, Reviewer especializado e Platinador de Games